Gente, eu estou me perguntando até agora o sentido daquela palhaçada do Júlio. Eu já achava ele um completo imbecil, agora então... é claro que esquecer o corpo dele não é tão fácil, mas o caráter e o gênio dele são dignos de uma lata de lixo. Ou ele queria me zoar, ou então eu estou no estilo daquela música “me diz aí menina o que é que você tem? Tem, tem, tem, você tem mel nesse trem!”... deve ser os dois.
O fato é que o saldo está positivo pro meu lado. Digo isso porque podemos colocar no débito meu universitário, meu ex dj muito louco, meu colega, digo, inimigo de trabalho e um doutor que possivelmente me deu mole. Falando nisso, essa manhã, quando fui acordada pela minha mãe me ligando insistentemente, vi uma chamada perdida do meu lindo e gostoso Rodrigo Dualibe. Eu quase quis me jogar pela janela, morreria despencando de seis andares. O fato é que quando fui retornar pra ele, minha campainha tocou. E só o fato dela ter tocado já fez meu dia começar absolutamente complicado. Era a minha mãe.
Chegou aqui em casa que nem uma coroa que não aceita ser velha. Melhor dizendo, vamos abrir o verbo, ela estava piriguete mesmo. Mas não posso negar que ela está uma velha gostosa. Enfim... ela me deu um abraço rápido e apertou o meu nariz (coisa que eu não suporto). Veio com uma bolsa grande e uma mala pequena e já me assustei.
- Filha, vim passar uns dias na praia. Nossa, esse seu apartamento está tão... um apartamento de virgem. O que está acontecendo? Nada de botar a Heleninha pra jogo?
Puta que paril, mãe, puta que paril!
- Botar a Heleninha pra jogo? Mãe, mas que porra você está falando? É o tal do surfista idiota que está te deixando assim? Por que se for – Ela me interrompeu e mudou a fisionomia.
- Não fala assim dele.
Me irritei mais ainda.
- Não falar assim dele? Qual é, mãe? Você acha que ele está contigo pra quê? Pra pegar seu dinheiro, se toca!
- Helena, eu não admito que fale assim comigo, estamos há quase um ano sem se ver e é assim que você me recebe?
Ela sempre gosta de virar o jogo e se fazer de vítima, por mais que isso tenha me irritado completamente, eu respirei e tentei levar a conversa numa boa.
- Tá... tá bom. E cadê ele?
- Ele não veio, insisti muito pra vir, mas está pra fechar uns negócios com o pai lá na empresa deles, enfim, resolvi vir sozinha te ver.
Ainda bem que ela ainda não perdeu o juízo completamente!
- E quanto tempo pretende ficar?
- Hoje e amanhã só, vou embora domingo de manhã, vim de carro.
Ela pegou as coisas e ficou me olhando com uma cara de: ‘seja simpática’.
- Me dá suas coisas, vou levar pro quarto. – Peguei a bolsa e a mala dela, que apesar de pequena, estava um chumbo pra quem ia ficar somente dois dias. Coloquei no quarto que reservo para visitas e voltei para a sala. Ela observava uma foto ampliada do papai, que estava em um quadro numa parede perto da mesa de jantar.
Parei ao lado dela e a olhei. Seu olhar era enigmático.
- Também sente falta dele? – A questionei.
- Sim, seu pai apesar de tudo foi um grande homem.
Apesar de tudo? Como assim?
- O que quis dizer com o “apesar de tudo?”.
Ela continuou olhando para o quadro.
- Ele era uma pessoa muito difícil, geniosa demais, tentávamos não brigar na sua frente, mas quando íamos para o quarto, muitas vezes ao invés de nos amarmos, passávamos um longo tempo batendo boca.
- Não vejo meu pai assim, as lembranças que tenho dele comigo são maravilhosas.
- Pode ser, ele era um ótimo pai, mas não era um homem ótimo.
- Por que está falando isso agora? – Voltei a me irritar.
- Porque estou me lembrando dele.
- Por que então casou com ele e teve uma filha? – Saí de perto dela e sentei no sofá.
- Não sei, Helena, tem certas coisas que a gente faz e não sabe nem o motivo.
Arregalei os olhos um pouco confusa, absorvendo a informação.
- Mas vamos falar de outra coisa, e seus boys, como andam? – Ela desconversou.
Falar de outra coisa?
- Não, agora não vou falar de outra coisa. Você acabou de insinuar que muito possivelmente eu nasci de uma forma altamente inesperada, sem motivo.
Ela andou até mim e parou na minha frente. Cruzou os braços e me encarou.
- Não ou falar disso com você. Vim te ver, quero saber de outras coisas, esquece o que eu disse. Você deve ter entendido errado.
- Entendido errado? Eu posso ser tudo, menos surda e burra. Mas tudo bem, você sempre foge das coisas que fala. É melhor mesmo deixar meu pai pra lá.
Levantei e fui até meu quarto trocar de roupa. Quando estava terminando de vestir minha blusa, virei e vi minha mãe plantada na porta me olhando.
- Vai aonde, Helena?
- Vou dar uma andada na praia, preciso processar bem sua chegada e o que me disse.
- Você tá agindo como criança. Aliás, você sempre foi uma criança mimada, graças ao seu pai.
Fuzilei ela com meus olhos.
- Se você pegou a estrada pra vir falar esse monte de besteiras, por favor, mãe, queira voltar pra sua cidade e pro seu surfista, que deve ser um cara muito mais digno que o seu falecido marido.
Quando passei por ela, ela segurou meu braço forte e me pressionou contra a porta.
- Você está precisando esfriar a cabeça mesmo. Vai dar uma volta, porque quando voltar eu quero conversar sério contigo. Vou aproveitar pra dar um jeito nesse seu apartamento. Já trouxe algum homem aqui?
- Você não vai mexer em nada. E acho que tenho 32 anos e não preciso te dar mais satisfações de determinadas coisas, principalmente com quem eu faço sexo. Até mais.
Peguei o caminho da porta e saí transtornada. Como é que ela pode ser assim? Tudo bem, sei que minhas atitudes foram infantis e que estamos há basicamente um ano sem se ver. Mas essa não é a minha mãe. E eu tenho certeza que tem dedo desse surfista maldito. Se eu encontro com ele, acho que o salto agulha que eu nunca usei vai ser de boa serventia.
...
Pow, ninguém lê e nem comenta nada aqui né?
ResponderExcluirGostei...Questões de família, sofro com isso direto...Pow, eu brigo com a minha mãe o tempo todo...Não a suporto...Mas é mãe...Não deu para escolhê-la ao nescer....
ResponderExcluirFazer oq?
@rafaelrisse