domingo, 13 de janeiro de 2013

O diário de Helena - Página 13


Respirei o ar puro da praia, vi belos corpos sarados correndo e jogando futevôlei. Fui do inferno ao céu em pouquíssimo tempo. Homem bonito é uma coisa tão divina, pena que a maioria dos homens lindos e maravilhosos são extremamente retardados. Como nada é perfeito, né, a beleza sobra e a inteligência falta. Normal, já me acostumei. Mais vale um feinho cult na mão, do que um otário bonito de corpão. 

Tomei uma água de côco, relaxei e voltei pra casa, de certo modo querendo paz, mas ainda não satisfeita com o que eu tinha ouvido. Entretanto meu inconsciente se fez consciente e gritou: sua burra, não esqueça que o seu doutor te ligou!

Com esse lapso de memória peguei o celular pra me certificar de que não foi um sonho (vai saber, né) e fui nas chamadas perdias e vi lá o número dele, me ligou às 9:32. Por que tão cedo, meu Deus? Estava disposta a ligar pra ele, mas resolvi esperar. Esperar só eu andar um quarteirão. Retornei, mas só deu na caixa postal. É a vida.

Quando cheguei em casa, tava tudo muito quieto, olhei para todos os cantos e vi que nada tinha mudado, pelo menos aparentemente. Procurei na cozinha e minha mãe não estava, fui para o quarto dela e não estava. Então fui correndo para o meu. Lá estava ela sentada na minha cama com umas lingeries espalhadas.

- O que significa isso? – Apontei pras lingeries.

- Estava olhando suas roupas íntimas e, como previ, você está precisando de lingeries novas então coloquei essas aqui pra você ver se gosta.

- Espera aí, mas por que você estava mexendo nas minhas coisas?

- Ah, filha, só quero saber como anda sua vida, você não conversa mais comigo.

- Não, não quer saber como anda minha vida, quer saber como anda minha vida sexual.

- Também! – Ela disse em tom empolgado.

- Mãe, olha, obrigada pela intenção, depois eu olho, apesar de achar que minhas lingeries são ótimas e que não preciso de nada no momento, mas pode guardá-las agora.

Ela fez aquela cara do gato de botas do “Shrek” e começou a guardar as lingeries. Se fazendo de vítima mais uma vez.

- Ah, mãe, para...

- Você tá mais calma? A praia te revigorou, colocou o juízo no lugar?

- Nunca tive juízo. Puxei você nesse quesito.

Ela terminou de guardar as coisas. Saí do quarto e em sintonia com meus passos avisei a ela que ia abrir um vinho e pedir uma comida para o almoço.

Escolhi o vinho, peguei as taças e as coloquei na mesa. Ela veio para sala, a servi e fizemos um brinde silencioso. Bebemos e a questionei o que iríamos almoçar, ela pediu uma massa para acompanhar o vinho, até achei uma boa pedida. Enquanto fazia o pedido ela voltou a olhar para o quadro do meu pai, dessa vez não quis saber, fui pra janela, ao desligar o telefone a vi ainda observando a foto, estática. Me encaminhei para o rádio na intenção de colocar uma música calma, antes de alcançá-lo a minha mãe me surpreendeu.

- Helena, você devia se desfazer desse quadro.

- Por que eu deveria? Cuidado com a sua resposta, não quero discutir.

- Por que seu pai está muito intimidador aqui e, além do mais, toda vez que for comer aqui na mesa vai lembrar dele, não te deixa triste?

- Não, pelo contrário. Sempre jantamos juntos e isso me traz um bem estar.

- Você gosta de fantasmas.

Sem querer derrubei minha taça de vinho, sorte que tinha apenas um dedinho do líquido.

- E você gosta de me irritar. Por que mudou tanto?

- Não mudei, Helena.

- Mudou, você sabe, há um tempo não falaria assim dele.

Ela se calou e tomou o restante do vinho numa golada só. Mais uma vez fez a cara do gato de botas do “Shrek”. Dei um sorriso debochado.

- Ah não, mãe, na boa... para com essa mania de se fazer de vítima.

- Helena, eu sempre soube que você não gosta de mim, desde bebê só tinha olhos para o seu pai. Depois que ele se foi achei que fossemos nos unir de um jeito muito bom, mas não, só nos afastamos mais.

- A criança agora está sendo você, dona Laura.

- Você viu o jeito que me recebeu? Lembra dos nossos últimos telefonemas? Você só anda me discriminando. Cortei o cabelo, mudei o visual, coloquei botóx, estou toda enxuta, linda, você nem reparou, não falou nada, só discutimos até agora.

- Eu pensei que os elogios do seu namorado te satisfaziam o suficiente. – Eu disse, mais irônica impossível.

- Me satisfazem sim, muito, mas sinto sua falta desde o dia que te coloquei no mundo e não sabe como isso me dói.

- Para com o drama, mãe. - Peguei a taça de vinho do chão e fui em direção à mesa. – Você não deve estar no seu normal. Por que fez isso tudo? Pra parecer mais nova? Pra impressionar o carinha que tá com você? O que ele tá plantando na sua cabeça?

- Não fala do que você não sabe, nem o conhece e já o julga como se soubesse quem ele é há muito tempo.

Deixei minha taça na mesa e respirei bem fundo, contei até dez calmamente.

- Você não faz o menor esforço pra estar comigo. Assim como você, eu tenho a minha vida, também gostaria que tudo fosse diferente, mas não é, sinto uma força que nos repele. É ruim, me deixa triste também, mas não vejo como sermos próximas.

Ela jogou a taça na parede e foi pro quarto. Eu tomei um super susto e fui atrás dela.

- Você está maluca? – Indaguei.

Ela começou a chorar e arrumar as coisas dela.

- Qual é, agora vai embora? É isso?

- Não sei nem por que vim, Helena, não sou bem aceita por você, não temos uma boa convivência, eu deveria ter pensado melhor nisso, mas não, quis fazer uma surpresa, quis tentar te agradar. Ser uma mãe mais presente, pelo menos tentar.

- Para de drama, mãe. Só tivemos um desentendimento, normal...

- Não, Helena, não, não tem mais espaço pra mim, não somos amigas, parceiras, cúmplices, eu queria isso de algum jeito, mas não dá.

- Ok, agora a culpada sou eu?

Ela colocou seu sapato, pegou sua jaqueta e fechou a mala.

- Não... a culpada sou eu de achar que um dia você pudesse se parecer minimamente comigo, quando na verdade você é idêntica ao seu pai, egoísta, altruísta e coração de pedra.

- Você não sabe o que tá dizendo! – Eu aumentei o tom de voz.

- Abaixa a voz pra mim, porque apesar de tudo eu ainda sou sua mãe.

- Apesar de tudo, você não gostaria, né?

- Talvez não, Helena. Ou então eu preferisse uma princesa ao invés de uma plebe rude.

Meus olhos se encheram de lágrimas e os dela também. A vi saindo da minha casa e tirei forças pra dar meu último grito.

- Vai, vai embora, é sempre isso que você faz, sempre me deixa sozinha!

E cá estou eu mais uma vez na solidão do meu apartamento, em meio a lágrimas doloridas e angustiantes me perguntando onde eu errei. Nosso entendimento era melhor, nos dávamos minimamente bem e de uma hora pra outra tudo se transformou num calvário. Não tenho mais meu pai, a quem eu recorria até quando um cabelo meu caía. Não tenho ninguém.

A minha sina deve ser assim, terminar sozinha um conto de fadas que eu fantasio, num sonho que se confunde com um caos.

A comida acabou de chegar, parece ótima, mas não tenho estômago. Vou voltar a dormir e torcer pra que eu acorde com a certeza de que essas últimas horas foram um pesadelo.

O diário de Helena - Página 12


Gente, eu estou me perguntando até agora o sentido daquela palhaçada do Júlio. Eu já achava ele um completo imbecil, agora então... é claro que esquecer o corpo dele não é tão fácil, mas o caráter e o gênio dele são dignos de uma lata de lixo. Ou ele queria me zoar, ou então eu estou no estilo daquela música “me diz aí menina o que é que você tem? Tem, tem, tem, você tem mel nesse trem!”... deve ser os dois.

O fato é que o saldo está positivo pro meu lado. Digo isso porque podemos colocar no débito meu universitário, meu ex dj muito louco, meu colega, digo, inimigo de trabalho e um doutor que possivelmente me deu mole. Falando nisso, essa manhã, quando fui acordada pela minha mãe me ligando insistentemente, vi uma chamada perdida do meu lindo e gostoso Rodrigo Dualibe. Eu quase quis me jogar pela janela, morreria despencando de seis andares. O fato é que quando fui retornar pra ele, minha campainha tocou. E só o fato dela ter tocado já fez meu dia começar absolutamente complicado. Era a minha mãe.

Chegou aqui em casa que nem uma coroa que não aceita ser velha. Melhor dizendo, vamos abrir o verbo, ela estava piriguete mesmo. Mas não posso negar que ela está uma velha gostosa. Enfim... ela me deu um abraço rápido e apertou o meu nariz (coisa que eu não suporto). Veio com uma bolsa grande e uma mala pequena e já me assustei.

- Filha, vim passar uns dias na praia. Nossa, esse seu apartamento está tão... um apartamento de virgem. O que está acontecendo? Nada de botar a Heleninha pra jogo?

Puta que paril, mãe, puta que paril!

- Botar a Heleninha pra jogo? Mãe, mas que porra você está falando? É o tal do surfista idiota que está te deixando assim? Por que se for – Ela me interrompeu e mudou a fisionomia.

- Não fala assim dele.

Me irritei mais ainda.

- Não falar assim dele? Qual é, mãe? Você acha que ele está contigo pra quê? Pra pegar seu dinheiro, se toca!

- Helena, eu não admito que fale assim comigo, estamos há quase um ano sem se ver e é assim que você me recebe?

Ela sempre gosta de virar o jogo e se fazer de vítima, por mais que isso tenha me irritado completamente, eu respirei e tentei levar a conversa numa boa.

- Tá... tá bom. E cadê ele?

- Ele não veio, insisti muito pra vir, mas está pra fechar uns negócios com o pai lá na empresa deles, enfim, resolvi vir sozinha te ver.

Ainda bem que ela ainda não perdeu o juízo completamente!

- E quanto tempo pretende ficar?

- Hoje e amanhã só, vou embora domingo de manhã, vim de carro.

Ela pegou as coisas e ficou me olhando com uma cara de: ‘seja simpática’.

- Me dá suas coisas, vou levar pro quarto. – Peguei a bolsa e a mala dela, que apesar de pequena, estava um chumbo pra quem ia ficar somente dois dias. Coloquei no quarto que reservo para visitas e voltei para a sala. Ela observava uma foto ampliada do papai, que estava em um quadro numa parede perto da mesa de jantar.

Parei ao lado dela e a olhei. Seu olhar era enigmático.

- Também sente falta dele? – A questionei.

- Sim, seu pai apesar de tudo foi um grande homem.

Apesar de tudo? Como assim?

- O que quis dizer com o “apesar de tudo?”.

Ela continuou olhando para o quadro.

- Ele era uma pessoa muito difícil, geniosa demais, tentávamos não brigar na sua frente, mas quando íamos para o quarto, muitas vezes ao invés de nos amarmos, passávamos um longo tempo batendo boca.

- Não vejo meu pai assim, as lembranças que tenho dele comigo são maravilhosas.

- Pode ser, ele era um ótimo pai, mas não era um homem ótimo.

- Por que está falando isso agora? – Voltei a me irritar.

- Porque estou me lembrando dele.

- Por que então casou com ele e teve uma filha? – Saí de perto dela e sentei no sofá.

- Não sei, Helena, tem certas coisas que a gente faz e não sabe nem o motivo.

Arregalei os olhos um pouco confusa, absorvendo a informação.

- Mas vamos falar de outra coisa, e seus boys, como andam? – Ela desconversou.

Falar de outra coisa?

- Não, agora não vou falar de outra coisa. Você acabou de insinuar que muito possivelmente eu nasci de uma forma altamente inesperada, sem motivo.

Ela andou até mim e parou na minha frente. Cruzou os braços e me encarou.

- Não ou falar disso com você. Vim te ver, quero saber de outras coisas, esquece o que eu disse. Você deve ter entendido errado.

- Entendido errado? Eu posso ser tudo, menos surda e burra. Mas tudo bem, você sempre foge das coisas que fala. É melhor mesmo deixar meu pai pra lá.

Levantei e fui até meu quarto trocar de roupa. Quando estava terminando de vestir minha blusa, virei e vi minha mãe plantada na porta me olhando.

- Vai aonde, Helena?

- Vou dar uma andada na praia, preciso processar bem sua chegada e o que me disse.

- Você tá agindo como criança. Aliás, você sempre foi uma criança mimada, graças ao seu pai.

Fuzilei ela com meus olhos.

- Se você pegou a estrada pra vir falar esse monte de besteiras, por favor, mãe, queira voltar pra sua cidade e pro seu surfista, que deve ser um cara muito mais digno que o seu falecido marido.

Quando passei por ela, ela segurou meu braço forte e me pressionou contra a porta.

- Você está precisando esfriar a cabeça mesmo. Vai dar uma volta, porque quando voltar eu quero conversar sério contigo. Vou aproveitar pra dar um jeito nesse seu apartamento. Já trouxe algum homem aqui?

- Você não vai mexer em nada. E acho que tenho 32 anos e não preciso te dar mais satisfações de determinadas coisas, principalmente com quem eu faço sexo. Até mais.

Peguei o caminho da porta e saí transtornada. Como é que ela pode ser assim? Tudo bem, sei que minhas atitudes foram infantis e que estamos há basicamente um ano sem se ver. Mas essa não é a minha mãe. E eu tenho certeza que tem dedo desse surfista maldito. Se eu encontro com ele, acho que o salto agulha que eu nunca usei vai ser de boa serventia.


...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Diário de Helena - Página 11



Coloquei uma saia preta e uma blusa social branca. Meu salto preto realçou incrivelmente minhas pernas. Uma maquiagem básica, uma bolsa média e lá vamos nós para o escritório.

Cheguei às 9h, tínhamos uma reunião marcada para às 10h. Enquanto não dava a hora da reunião, fiquei na minha sala analisando uns casos, assinando umas concessões e lendo uns artigos que eu só estava adiando. Só assinei as concessões, em 30 minutos batem na minha porta, eu respondi sem olhar que podia entrar. Achava que era a Vânia, nossa secretária, o bater à porta era igual ao dela. Nem me dei o trabalho de olhar pra ver quem era, de repente tinha Júlio na minha frente.

- Bom dia, senhorita Maia. – Ele disse em um tom um tanto quanto estranho.
O olhei, ainda não acreditando que aquele estorvo estava na minha frente, respirei fundo e rebati.

- Agora mesmo que meu dia que era pra ser bom fica péssimo.

Ele se aproxima e senta na quina da minha mesa, de frente pra mim. Que abusado!

- Por que tanto mau humor?

Eu reviro os olhos e coloco os papeis que estavam comigo na mesa.

- Porque são 9:30 da manhã e eu já tive o desprazer de ter que ver você, não acha um bom motivo pra estar mau humorada, senhor Júlio?

Ele esconde um sorriso sarcástico e retruca.

- Pra mim isso é amor. Deve ser apaixonada por mim, não aguenta me ter por perto. Estou certo?

Não aguento e solto uma gargalhada.

- Ah, Júlio, não sabia que agora você tinha virado piadista.

- Estou falando sério. – Ele sorri.

Além de abusado se acha o último biscoito do pacote, eu devo merecer!

- Então leva a sério o que eu falo, nem se você fosse o último cara do mundo eu me apaixonaria por você. Viraria lésbica na hora.

Ele arregala os olhos e levanta da mesa num salto. Chega bem perto de mim, as mãos nos braços da minha poltrona e ficamos cara à cara. Meu coração dispara – com medo, claro! Se meu chefe nos pega nessa cena ridícula...

- Você acha mesmo que eu engulo essa história de que você me odeia? Dizem que ódio é amor, estou começando a acreditar nisso, senhorita Maia.

- Sai, sai daqui, Júlio. – Empurro ele com as duas mãos e sinto seu peitoral definido por baixo daquela camisa social azul. Nunca pensei que debaixo daquela roupa existia um homem minimamente gostoso.

Ele dá um sorriso e volta a se aproximar de mim.

- Ficou incomodada, senhorita Maia? Viu como eu mexo com você? – Ele volta a se sentar na minha mesa, dessa vez no meio dela, exatamente na minha frente.

Engoli a seco.

- Vem cá, dá pra você parar de me perturbar e sair da minha sala? Já viu o tanto de coisa que tenho pra fazer antes da reunião? Você não tem nada pra fazer, não?

Ele puxa minha poltrona pra perto dele, mas continua sentado na mesa.

- Vim aqui te dar um recado a pedido do nosso grande chefe Marcos...

- Por que ainda não falou e foi embora? – Eu respondi ríspida, sem olhar em seus olhos, ajeitando a manga da minha blusa.

- A reunião de hoje foi cancelada. O Grupo AR Mattos Vargas teve um imprevisto e avisou pra remarcarmos.

Fanzi a testa e pensei logo que o dia seria mais tranquilo e daria pra eu fazer minhas coisas com calma.

- Ótimo. Recado dado, agora pode sair. – Eu respondi com um sorriso turvo.

Ele novamente se debruçou nos braços da minha poltrona.

- Júlio, pelo amor de Deus, qual é a sua? Se o Marcos chega aqui você sabe que nós dois estamos na merda. Não sabe?

Ele me olha fixo, em seguida me olha de cima à baixo e retorna o olhar para os meus olhos.

- Sabia que hoje você está incrivelmente sexy? Gostei muito da combinação da sua roupa.

Meu estômago torce de nojo por dentro e não evito uma risada debochada.

- Você é ridículo, Júlio. Se não sair daqui em 5 segundos eu vou gritar, chutar seu Júlio Jr. ou te dar um soco. Você escolhe.

Ele faz uma careta, mas continua imóvel me olhando.

- Júlio, Júlio, não pague pra ver...

Ele segura o meu queixo e se aproxima da minha boca. Sinto a respiração dele em mim.

- Quero beijar você, Helena, desde quando entrou aqui pro nosso escritório. Mas você só me esculhamba...

Não acreditava no que estava ouvindo, era demais pra mim. No-jen-to.

- Eu tenho nojo de você. Seus 5 segundos estão sendo contatos a partir de agora. – Olho pro relógio e faço a contagem regressiva. Ele espera eu chegar no 1 e tapa minha boca e segura minhas mãos.

- Pensa no que eu te disse, senhorita Helena Sexy Maia. Se dê a chance de me conhecer melhor. – Ele vai até meu ouvido e sussurra com uma voz bem agoniante – Você vai gostar.

Apesar de me arrepiar, o meu medo por ter meu chefe abrindo aporta e encontrando o Júlio quase que no meu colo me fez ter força pra soltar minhas mãos presas nas dele e segurei firme em seus braços. Constatei mais uma vez que por debaixo daquela roupa tinha um homem forte e másculo. Não me deixei levar pelos seus músculos e logo respondi, levantando da cadeira.

- Chega. Sai daqui. – Fui me encaminhando pra porta. – Além de inconveniente, irritante e imbecíl, você é extremamente idiota e babaca.

Ele andou até mim rindo, não sei do que, e parou em frente a mim na porta.

- Mesmo você despejando todas essas palavras, no mínimo afetuosas, eu quero te convidar pra um chopp. Só me diz o dia e a hora.

Ele sorri de canto e deixa minha sala. Fecho a porta inundada de raiva e volto a sentar na minha poltrona. Fiquei pensando no que tinha acabado de acontecer, possessa e puta com o atrevimento daquele advogadinho idiota. E as imagens do que tinha por baixo daquele palitó não paravam de vir à minha cabeça, se confundiam com a lembrança dele debruçado nos braços da minha poltrona e com seu atrevimento de chegar tão perto de mim.

Passei o dia confusa com isso, mas trabalhei minimamente direito. O que não entendo é porque até agora não paro de pensar nisso.

BABACA, BABACA, BABACA!

Até mais!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O diário de Helena - Página 10


Depois de reviver meu momento universitária, que nem tem tanto tempo assim (só tem 9 anos), com aquele delicinha do João, só podia dar m...

Lembrei da minha adolescência e de um monte de coisas até meus 24 anos. Até os 24 porque considero que fiquei madura aos 25, apenas considero, se você quiser desconsiderar eu entendo. Juro!

Abri meu armário e peguei uma caixa grande que estava guardada na parte de cima. Não sei porque tenho essa mania de guardar coisas. Guardo mágoas, amores, doutores...

Enfim, peguei a caixa, sentei na minha linda e confortável cama, que é de onde estou digitando, inclusive.

Abri a caixa e fui reviver um pouco do meu passado.

Lá dentro tinha: um caderno daqueles cheios de pergunta que a gente dava pros amigos responderem: Cor favorita? Está namorando? Apaixonado? Por quem? Deixe um recado para a dona do caderno... – Tinha um álbum do Ricky Martin, uma foto minha com a Xuxa, o ingresso de um show das Spice Girls e outro do Barão Vermelho e uma série de cartinhas que trocava com minhas amigas quando eu era mais nova. Eu era muito retardadinha, escrevia pra todas as minhas amigas, as que eu mais gostava, claro. Tadinhas, elas se sentiam na obrigação de responder e ficávamos trocando infinitas cartinhas bonitinhas. Coisa de gay, né? Nada contra os gays, amo todos de paixão, mesmo! Na verdade eu me acho gay às vezes. Bem que seria uma aventura se... Nada, deixa pra lá, foi um devaneio.

Retomando aqui... Achei uma Minnie de pelúcia, foi do meu primeiro namoradinho, Henrique. Tadinho, judiei tanto dele. Ele foi pra Disney e enchi o saco pra ele trazer um monte de coisas, mas se não trouxesse um casal Mickey e Minnie, pra ele ficar com o Mickey e lembrar de mim e vice e versa, eu ia namorar o Pedro (melhor amigo dele). Sim, eu era geniosa desde os meus 13 anos. Estudei com o Henrique até o ginásio e depois... Pera, calma, eu falei ginásio mesmo? Por favor, abstraiam. Tô me sentindo muito velha revendo essas coisas, deve ser por isso que saiu essa palavra de velho. Enfim, eu e o Henrique ficamos de namorico até meus 14 anos, mas era namorinho bobinho de dar selinho, pegar na mão, andar de mãos dadas. Minha mãe adorava ele. Mas os pais dele não gostavam de mim. Por que será, né? 


Ele chegava em casa roxo porque eu batia nele quando via ele conversando com a menina que eu mais odiava da escola, cortei um pedaço do cabelo dele quando tive um ataque de riso e meu chiclete voou na cabeça dele, aprontava na sala de aula, jogava bolinha de papel no professor, passava cola errada de propósito pra algumas pessoas, colava papel no estilo “me chute” em quem tava sentando na minha frente... E depois eu incriminava o Henrique. Ele gostava de mim mesmo assim. Digo isso porque ele levou duas suspensões por levar a culpa no meu lugar. Na verdade não gostava de mim não, ele era muito idiota mesmo. Mas... Estudamos juntos até o 3º ano do ensino médio. Eu levei minha vida aqui e o Henrique foi estudar nos Estados Unidos. Mora lá desde então. É economista, tem um casal de filhos e uma mulher linda. Quem diria, né? E eu aqui atrás de um doutorzinho que nem disca meu número.

Achei foto da mina formatura no C.A, na 8ª série e no 3ª ano. Impressionante como eu sempre tive a bunda grande, alguma coisa eu tinha que herdar de bonito da minha mãe, porque sou praticamente o meu pai numa versão feminina.

Achei também um livretinho, fininho de poesias e textinhos. Acho que foi a fase mais brega da minha vida. A fase dos amores platônicos no início da universidade. Primeiro foi por um professor de 40 anos, com cara de 30 e corpo de 25, depois foi por um amigo (que era gay) e em seguida pelo atendente da livraria em que eu ia comprar meus livros da faculdade. É, eu não tenho nenhum critério. Escrevia várias coisa pensando nesses amores maluquetes.

Por exemplo: “...e vi seu olhar de longe procurando algo que queria que fosse qualquer parte minha, implorando meus lábios encostados nos seus, decifrando o que meu coração a cada batida dizia...”

Peguei o menos pior, tá?

Guardei minha melhor prova e minha pior da faculdade.

Uma nota 2 em Direito Penal e um 10 com direito a comentário do professor em Direito Internacional Privado.

Entre outras coisas que eu não preciso entrar em detalhes porque serão muito constrangedoras. Não tenho problemas com isso, mas é que pra eu me sentir constrangida é porque é brabo mesmo.

Tive boas lembranças remexendo essas coisas. Dei boas risadas. De certo modo esse universitário entrou na minha vida na hora certa, eu precisava e distrair. Tem um doutor ocupando minha cabeça o tempo inteiro.

Vou trabalhar. Tenho uma daquelas reuniões chatas hoje, com aquele colega de trabalho insuportável também.

Mandem boas energias pra mim e a paciência de vocês também, vou precisar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O diário de Helena - Página 9



Não. O meu doutor não me ligou e nem eu liguei pra ele. Por que eles prometem ligar se nunca ligam depois? Só pra fazer o fofo? Ah, vai dar meia hora de... Cabeçada na parede. 

Enfim, por mais que eu queira esse homem mais que tudo, ele precisa fazer o papel de homem, né? Ligar, apenas isso. Não que eu não tenha atitude o suficiente pra fazer, eu até quero, quero muito. Mas vou bancar a difícil dessa vez. 

Bom, hoje não vim pra falar do Rodrigo. Milagre, não?
Vim contar uma super aventura que tive no bar com a Amandinha. Mentira, super aventura nada, foi só uma experiência diferente, digamos assim. Hahah. 

Fomos a um barzinho aqui perto de casa, bem conhecido até. Um lugar bem aconchegante, dão umas pessoas bonitas, tem música ao vivo. Já fui lá algumas vezes. Poucas, na verdade. A Amandinha terminou com o Leo (DJ) e já tava louca por uma nova boca. 

Chegamos lá e era um show no estilo ‘mistureba’, a banda tinha um repertório vasto, que ia da MPB ao axé. Interessante até, tudo que pediam eles tocavam. Foi bem divertido. 

Pegamos uma mesa perto do palco e logo começamos os trabalhos. De início, caipirinha pra agitar. Mal conversamos, Amandinha tava louca, dançando e cantando, na verdade se insinuando pro vocalista, que por sinal, cantava olhando, quero dizer, comendo a minha amiga. Eu tava me divertindo extremamente vendo aquela situação. Comecei a ficar alegrinha e também entrei no clima da Amandinha. Mas não, não me insinuei pra ninguém da banda, todos muito chinfrins pra mim. 

Nessa de tanto dançar e cantar, já com o barzinho lotado ao extremo, eu não avistava nenhum garçom. A sede me dominava, resolvi ir até o bar pedir uma cerveja. Quando cheguei lá, tinha um carinha pedindo. Olhei pra ele e meu alerta ‘homem maravilha’ já apitou freneticamente. Pedi minha cerveja e ele disse: 

- Não, não pede não. Acabei de pedir essa. Pede um copo no lugar de uma garrafa. 

Achei aquilo o must da maravilha. Pedi um copo, ele me serviu, brindamos e bebemos um gole. 

- Desculpa eu te abordar assim, mas é que eu já tinha te visto por aqui uma vez, hoje tornei a te ver lá na frente dançando, resolvi então te dar um oi, mais que isso, ser gentil. – Ele me disse com um sorriso estampado. 

Continuei bebendo e agradeci a gentileza. 

- Não me lembro de você por aqui, até porque vim poucas vezes e sempre tava muito cheio. Já é cliente da casa? – Eu disse disfarçando meu interesse por aquela boca vermelha, linda e maravilhosa, envolta de uma barba ralinha. 

- Não, não, vim poucas vezes também, talvez um pouco mais que você. Sou amigo do pessoal que tá tocando aqui hoje. Mas me diz o seu nome, nem perguntei, desculpa a minha falha! – Ele disse sorrindo, dando um gole naquela cerveja que parecia estar mais gostosa que as outras. 

- Helena. 

- Sou João. – Ele disse, extremamente charmoso. 

Não precisamos de muito papo não. Já fomos logo ao que interessava. Ele até tinha um papo legal, mas eu queria muito sentir aquela barba roçando no meu rosto, no meu pescoço. Ficamos ali naquele amasso gostoso, quando não sei por que cargas d’água, ao pedirmos mais uma cerveja, eu resolvi perguntar mais sobre ele, me interessei. 

- Mas me conta, você trabalha com o que? 

- Arquitetura. Na verdade eu estagio. Ainda estudo. 

OH WAIT! Pesquei um universitário? Eu sou demais nas escolhas! 

- Idade? – Eu questionei. 

- 25, recém-completados mês passado. 

Não aguentei e soltei uma risada controlada, mas de forma fofa. 

- Do que tá rindo? – Ele me perguntou rindo também. 

- Nada, na verdade nunca ia imaginar que você tem 25. Parece ser mais velho. 

- Nossa, eu tô tão acabado assim? – Ele disse brincando. 

- Não... É que sei lá, seu jeito, seu papo, sua postura, nunca imaginaria que teria 25. – Eu disse surpresa. 

- É que eu sou um cara bem legal, modesta a parte. Sei ser homem, não sou como esses por aí que saem se atracando com a primeira que vê, que não ligam quando dizem que vão ligar, que só pensam neles... 

Juro, juro que eu me contive pra não dizer: “Ah, então você é o cara inimaginável e inexistente da música do Roberto Carlos? O cara que pensa em você toda hora, que conta os segundos se você demora...” 

Eu apenas sorri e voltei a beijá-lo, me poupei de saber qualquer outra coisa que pudesse me deixar com mais vontade de rir. 

A Amandinha, como eu imaginei, pegou o vocalista lá da banda. Saíram do barzinho juntos. O João me levou em casa. Não, não foi de carro, nem de bicicleta, nem a pé, foi de táxi mesmo, hahahaha. 

Mas não trocamos telefone, ficamos de nos esbarrar lá pelo bar de novo. Sem contar que de certa forma ele sabia onde eu morava. 

Agora vamos às reflexões. 

Ele é bem bonito, tem um papo legal, tem pegada, parece ser inteligente e divertido. Mas imagina a situação: “João, pra onde vamos hoje?”, “Poxa, Helena, tenho que dar prosseguimento na minha monografia, vamos sair outro dia?”, “Não, meu universitário baby, eu vou é sair hoje mesmo, com ou sem você, boa sorte na monografia!”, hahahaha! 

Sem contar que os caras que optam por exatas, normalmente são bem doidos das ideias. Mas eu não quero saber disso, me diverti com essa minha pesca. 

Literalmente eu escolho a dedo os carinhas mais improváveis pra minha personalidade. Um universitário homem maravilha, terminando a faculdade, 25 aninhos, quanta sorte junta! Mas eu gostei dele, eu confesso. 

O balanço da noite foi ótimo, não paguei mico, não fiquei bêbada, minha calcinha não rasgou e não pensei no meu doutor. 

Mas em compensação passei por uma nostalgia tremenda que me levou a revirar fatos passados do tipo “o meu passado me condena”. 

Conto no próximo post.

domingo, 25 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 8

Passei o feriado e o fim de semana em casa, comendo sopa fria, tomando sorvete e milkshake. Até achei que fosse emagrecer, mas mantive meu peso, que não vou revelar, claro. Além disso, analisei alguns processos. Enquanto meus colegas de trabalho viajaram, foram pra noite, eu fiquei em casa, com menos um dente pensando no meu médico e possivelmente errando na análise de todos os processos. As coisas que aquele atendente babaca me falou não saíram da minha cabeça. 

Eu aproveitei pra ver uns filmes também. Mas cara, eu fiz uma coisa que acho que mudou minha vida. Comecei a ler ‘50 tons de cinza’. Christian Grey tá na disputa com meu doutor. Fantástico, não é só porque é rico, empresário e maravilhoso, mas é porque literalmente ele é um personagem que não merecia a Anastasia. Grey, prazer, Helena Maia Dualibe. Vem me buscar e me leva pro seu mundo, seu sedutor super sinistro de bom!

Bem, voltando pra minha realidade, esperei meu telefone tocar torcendo por ouvir um “Oi, Helena, é o Rodrigo, como vai?”.

Mas até agora nada. Quero dizer, nada de Rodrigo, porque minha mãe voltou a me ligar pra me contar sobre o tal do boy dela (a velhice tá braba, achava que não tinha me contado, então tive que lembrá-la da nossa conversa altamente estranha ao telefone naquele péssimo dia), e a Amandinha depois de alguns dias me ligou. Adivinhem pra quê? Pra falar sobre o Leo, vulgo DJ.

Vamos então ao que interessa.

Eu estava linda e gostosa de pijama no meu sofá, toda esparramada e confortável vendo “My week with Marilyn”, quando meu telefone toca. Por mais que eu o estivesse ouvindo, eu não o encontrava de jeito nenhum. Nessa de esperar meu Rodrigo ligar, o levava pra todo o canto. E o último que o deixei foi no vaso das minhas orquídeas lá na varanda. Encontrei ele e atendi com o coração no ritmo de uma escola de samba.

- Alô? – eu disse esperançosa (e com voz sexy)

- Sua putinha, se eu não te ligo você não me liga, né? Por que demorou pra me atender? Tá com alguém aí? Tô atrapalhando? – Amandinha me interrogou.

- Gata, olha só, você tinha ficado de me ligar, não? Até então não sabia que tinha voltado. Não, infelizmente tô sozinha aqui. – Falei decepcionada.

- Tá com tempo?

- Tô, amiga. Fala aí, como foi a viagem?

- Ah, amiga, foi mais ou menos, eu senti o Leo meio esquisito, sei lá, parecia estar com o pensamento longe ou pensando em me dar um pé na bunda... – Comentou triste.

Nesse momento eu engoli a seco, dei um tapa proposital na testa e me lembrei que ainda não tinha contado como tinha sido meu fim de noite no baile funk e nem que eu já conhecia o Leo e tive um caso com ele.

- Então, antes de você continuar eu preciso muito te contar um negócio. – Falei apreensiva pra cacete.

- Siiiiiiiiim! Me conta como foi lá no baile, curtiu? Pena que você sumiu e não deu pra eu te apresentar o ... – A interrompi.

- Eu já conheço o seu DJ.

- Conhece? Como conhece? – Ela me indagou surpresa.

- Há um tempo atrás nós tivemos um lance, como diz me por aí, um lance sem romance.

- Peraí, você e o Leo? Mas você nem viu ele, eu nem apresentei vocês... Como assim?

- É, Amandinha, eu fui atrás de você lá e quando vi você com ele, fugi que nem o capeta foge da cruz.

- Por que?

- Porque ele me infernizou um pouquinho, se apaixonou por mim, eu não queria nada, ficou correndo atrás, enfim... Aquela história toda que acontece com mulher apaixonada, só que, no meu caso, aconteceu uma inversão.

- Entendi... Mas se já faz tempo, por que não foi lá só dar oi? Será que ele ainda não te esqueceu? Não é possível, amiga.

Eu confesso que fiquei muito surpresa com a reação dela. Não esperava que ela reagisse assim, no mínimo esperaria algo do tipo “porra, sua puta, nem me contou antes essa história que aconteceu contigo”. Mas tudo bem, melhor assim, né?

- Pois é, Amandinha, ele desistiu de mim na época, mas disse que se me visse algum dia iria tentar algo, por isso fugi. Pra não ter um chiclete grudado no meu silicone e lógico, pra em consideração a você.

Amandinha ficou um pouco em silêncio e minha espinha chegou a se arrepiar. Ela podia estar querendo me matar, ou não, sei lá.

- Quer saber? Que se dane esse babaca. – Ela disse revoltada.

Eu não entendi a atitude dela, achei que tinha feito merda.

- Oi? Até então você tava meio triste porque a viagem não foi boa, eu te conto um negócio desses, você se cala e manda essa... Wtf?- Eu disse sem entender.

- Tu deve saber, né, amiga. Ele nem é tão bom de cama, o beijo é razoável, não vai me dar futuro e ainda quer dividir todas as contas.

- Pior que é mesmo. Tu merece um cara mais interessante, em todos os sentidos. O Leo é lindo sim, mas é exemplo vivo de que beleza é só pra ser apreciada mesmo, porque na hora do vamos ver...

- Menina, você acredita que ele brochou?

- Acredito, amiga. Ele brochou comigo uma vez também. Bem no nível ‘a pipa do vovô não sobe mais’. Realmente, sai dessa, pula fora, não dá não. – Eu contei.

- Helena do céu, que babado. Então o cara é pró na arte de fazer, quero dizer, de não fazer nada? Menina... É, vou dar um pé na bunda merecido. Até porque tamanho é documento.

- Amandinha, eu prefiro nem entrar nesses méritos 
 Ri compulsivamente.

Contei pra ela da minha aventura com o Catra, ela ficou em êxtase e "P" da vida por não ter visto. Combinamos um barzinho pra semana que vem.
Mas eu ainda estava ansiosa. E agora, não só ansiosa como preocupada. A Amandinha desligou o telefone falando que ia terminar com o Leo. Espero que ele não arrume um jeito de me achar.

De brocha e deprimente já basta essa vida chata de esperar por um telefonema, né?
Voltei a ver meu filme, dessa vez com o telefone ao lado. Dormi e acordei com a boca aberta e com baba. Não sou assim, juro. Nem o filme tava ruim, pelo contrário, eu tava amando. Mas sei lá porque eu dormi.

Acordei com fome, pra variar, e lá fui eu pra cozinha preparar meu super cardápio ultra máster variado e delicioso.

Que vida e que fase!

Semana que vem tem barzinho, espero ter uma aventura pra contar. Se algo acontecer antes, volto sem nem pensar!

Será que meu Doutor liga? Será que eu ligo? Alguém me dá uma dica?

Até mais.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O diário de Helena - Página 7


Tirar siso é tão ruim. O lado bom é que não tô com a boca inchada, mas não poder comer é um suplício.

Fiquei de contar o encontro com o meu doutor, né? Então lá vai.

Olhei pra ele e não acreditei muito bem que era ele mesmo.
Eu tinha 30 reais na mão pra pegar o remédio e fiquei como uma estátua enquanto meu cérebro absorvia a imagem dele, e enquanto eu me certificava de que não era um sonho.
Até porque nos meus sonhos mais quentes, nunca imaginei encontra-lo justo na farmácia.
Na minha casa, na casa dele, num restaurante, num bar, em qualquer outro lugar. Mas eis que ele estava ali, lindo como sempre (e ao extremo) na minha frente.

- Helena, que coincidência te encontrar por aqui.
Eu permaneci calada, com cara de menina apaixonada que acabou de perder a virgindade olhando pro cara que ama.

- Tá tudo bem? Você tá precisando de alguma coisa?
Meus pensamentos diziam: sim, tô sim, da sua boca na minha, do seu corpo no meu, desse homem lindo e maravilhoso acordando do meu lado todos os dias...
Ele viu o anti-inflamatório na minha mão e perguntou o que houve.
Nessa altura eu já tinha me certificado que era ele mesmo e que não era sonho.
Então me atrevi a falar com aquela voz de traveco cheia de algodão na boca.

- Oi, Rodrigo. Nossa, olha intimidade, quero dizer, oi, doutor. Tô bem, não nos meus melhores dias, acabei de voltar do dentista, tirei um siso.
Acho que pra falar essa frase eu demorei  5 minutos cronometrados. Tava fazendo figa em pensamento pra ele ter entendido o que eu disse, o algodão me atrapalhava muito a falar e me fazia salivar loucamente.

- Poxa, que chato, Helena. Nem vai aproveitar o feriado, né?
Mais uma vez meu pensamento me cutucava: vou, com você, lógico, só me falar pra onde vamos. Acho que queijos e vinhos cairia bem, um fondue, sei lá.

- Pois é, infelizmente. Mas tinha que tirar logo e aproveitei pra ficar em casa quietinha esse feriado, até pra não faltar o trabalho.
Mais 5 minutos pra falar e voz de bêbada.
O atendente me pediu licença e pegou o dinheiro que tava comigo e prontamente me deu o troco.

- Ah, é, aproveita pra descansar mesmo e cuida dessa boca direitinho. Sabe que só pode tomar gelado, né?
Eu não acreditava que tava tendo um diálogo desses com ele. Eu querendo falar de amor, namoro, casamento, filhos, e ele insistindo no meu siso, mas tudo bem.

- Pois, é...
Pois é??? Isso é resposta que se preze? Pois é, foi a que eu dei.
Mas pelo menos a minha frase seguinte me rendeu boas suposições.

- Só espero não ficar com o rosto inchado, né, já basta ficar em casa de molho no feriado...
Ele me olhou e abriu um sorriso, um sorriso não, o sorriso mais lindo do universo.

- Coloca gelo, toma o remédio direitinho e toma bastante gelado. Pode ter certeza que não vai inchar. Mesmo se inchar, você continuaria linda. A propósito, você tá muito bonita.
OMG! Sim, ele disse que eu tava muito bonita!

- Ah, doutor, agradeço o elogio, mas tô longe de estar bonita, sem dente e cheia de algodão na boca.
Ele me abriu mais um sorriso e encostou a mão no meu braço
- Que é isso, Helena, você é linda.

Pensamento podre: claro, você colocou um baita dum peitão em mim, se eu não tivesse, no mínimo gostosa, acho que seu trabalho não teria sido tão bom.
Eu tentei sorrir e agradeci um pouco sem jeito. Sim, acreditem, eu fiquei sem graça.
Ele colocou a mão no bolso e pegou a carteira.

- Olha Helena, esse aqui é meu cartão novo. Troquei de telefone lá no consultório, tem meu celular também. Se precisar de alguma coisa me liga. Se não precisar também pode ligar, quando melhorar podemos nos ver de novo.
OMG, OMG, OMG, OMG!
Engoli a seco, pensei estar com problema de audição, visão, tudo junto. Mas peguei o cartão dele e guardei na minha bolsa.

- Poxa, obrigada, doutor, eu...
Ele me interrompeu.

- Rodrigo, me chama de Rodrigo. Doutor só no consultório.
Fiquei um pouco sem graça mais uma vez e me desculpei pela minha formalidade.

- Tá tudo bem. Bom, tenho que ir. Ainda vou atender hoje. Foi ótimo te rever.

- Foi ótimo te ver também, Rodrigo.

- Bom, eu já vou indo, mas antes...
Ele pegou o Iphone dele do bolso, meu coração disparou.

- Você pode me dar o seu telefone?
OMG, OMG, OMG OMG, OMG, OMG!
Pensamentos podres - a volta: eu dou é o que você quiser, seu lindo, gostoso.

- Claro.
Dei o número, ele anotou.

- Bom, tenho a opção de te ligar também. Agora vou mesmo.
Ele me deu um beijo ma-ra-vi-lho-so na bochecha e foi embora.
Eu fiquei ali plantada igual a um 2 de paus delirando sozinha, quando o atendente me fala:

- Você podia ser mais discreta.
Eu olhei pra ele sem entender e o questionei.

- Qualquer um vê que tá escrito, melhor, tatuado o nome desse cara aí na tua testa. Não seja tão fácil.
Ora, ora, quem esse babaca pensa que é pra falar assim comigo.

- Jura que dá pra ver isso na minha testa? Será que ele percebeu?

- Bom, se ele percebeu eu não sei... Ah, deve ter percebido sim. Mas pelo menos uma noite contigo vai querer, pegou seu telefone.

- Ô garoto, vai trabalhar, vai. E me respeita, sou advogada, sabia? Posso te acusar por calúnia.

Virei as costas e fui embora.
Aqui estou eu, sem saber de absolutamente nada. Pensando no elogio que recebi do meu doutor, mas ao mesmo tempo pensando no que aquele atrevido daquele atendente me disse.

E agora?